quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Londres, 2011 DC


Hoje não resisto a sair do tema habitual deste blogue, para tecer algumas considerações sobre o que se está a passar no Reino Unido.

A história parece ser essencialmente a seguinte:

Tumultos estalaram um pouco por toda a Inglaterra após um jovem de 29 anos de idade, pai de quatro filhos que dava pelo nome de Mark Duggan ter sido morto a tiro pela Polícia na sequência de uma operação de vigilância e seguimento que, aparentemente, o visava.
Inicialmente foi veiculada a informação que Mark teria feito o primeiro disparo contra as autoridades. Um dos agentes fora atingido a tiro num flanco do tronco, havendo um projéctil alojado num emissor/receptor que transportava. As informações mais recentes apontam para o facto de Mark nunca ter disparado contra a Polícia.
Pelos vistos, Mark era um bom pai de família e um membro muito considerado da sua “comunidade” que também tinha ligações a um gangue local, onde era igualmente considerado. Terá sido pelas últimas e não pelas primeiras razões que a Polícia o seguia.
A comunicação social começou a exploração da notícia e iniciou-se a habitual rotina: a biografia da vítima, os depoimentos dos amigos, as colagens aos contextos sociais, raciais e culturais.
No dia seguinte a estes acontecimentos, iniciaram-se protestos pacíficos nas ruas do bairro onde Mark residia que rapidamente se transformaram em tumultos violentos.
Um grupo de cerca de 300 indivíduos juntou-se em frente às instalações da Polícia de Tottenham exigindo “justiça”.
Enquanto isso começavam as pilhagens e os ataques nas zonas de Tottenham, Enfield, Walthamstow e Brixton.
A Polícia Metropolitana de Londres tentou repor a ordem pública com os poucos meios e preparação que tem para estas situações (no Reino Unido não existe uma tradição de polícia de reposição de ordem pública. A Polícia é essencialmente, um grupo de membros da comunidade especialmente preparado e remunerado para cumprir em permanência os deveres que são de toda a comunidade, seguindo os 9 princípios de Robert Peel).
A desordem alastrou a toda a cidade de Londres e a zonas de Birmingham, Liverpool, Nottingham e Bristol.

O resto é conhecido.

Atribui-se a Bertrand Russel a seguinte frase: “Os Homens nascem ignorantes, não nascem estúpidos. É a educação que os torna estúpidos.”
Não queiramos precipitar-nos na interpretação desta afirmação. Bertrand Russel, era um homem superior e acima dos seus pares era um defensor da educação e da cultura.
Nas últimas décadas fomos caindo no erro de pensar que andamos a educar correctamente. Os valores das sociedades ocidentais, especialmente aquelas que conhecem o Estado Social incluem, felizmente, noções como a inclusão, a diversidade, a comunidade, o multiculturalismo.
Porém, o modelo do Estado Social ocidental disponibilizou-se a entregar tudo a todos, de qualquer forma, muitas vezes sem critério e sem questionar o “como” e o “porquê”.
Também, por receio ou por imperativo ideológico, educou para os direitos e não para os deveres.
O Estado Social tornou-se o alvo ideal da predação e do parasitismo, o apoio dos desvalidos transformou-se no privilégio dos não contribuintes, a miséria é para muitos um modo de vida que se eterniza e se transfere entre gerações de pessoas que se recusam a evoluir para o patamar seguinte, preferindo viver do subsídio do que aproveitar as oportunidades para estudar e trabalhar.
A sociedade contemporiza e tolera o intolerável. Tolera o intolerável não porque é verdeiramente tolerante, mas porque nos tornámos incapazes, impotentes e receosos de exercer a autoridade, definir claramente rumos e manter a ordem.
O que se passa no Reino Unido, não é um problema do Reino Unido, não é um problema de Polícia ou tão pouco uma questão racial.
Estamos perante um problema de “Comunidade Aparente”, achamos que temos comunidades sólidas, maduras e capazes de contribuir para a auto-regulação, mas o que a generalidade de nós entende serem as “comunidades”, não corresponde ao que as “comunidades” pensam ou querem ser.
Fica demonstrado que as comunidades de indivíduos são comunidades de valores, sendo alguns pouco visíveis e muitos distintos dos valores da generalidade das pessoas que dela não fazem parte. São comunidades que olham para dentro e para fora, distinguindo-se do resto da sociedade e sentindo-se orgulhosos disso, que discursam com o “nós” e os “outros”, que são comunidades só no sentido em que apostam na sua diferenciação e não na sua integração, que querem ser distintas, diferentes e merecedoras de um tratamento especial, e que facilmente se transformam em esconderijo e protecção de criminosos e delinquentes, se eles fizerem parte da “comunidade”.
Para sobreviver, o mundo ocidental e o Estado Social têm de mudar.
O Estado pode ser assistencial e apoiar os mais desfavorecidos, impulsionando o seu desenvolvimento pessoal, mas não pode ser fonte de resolução de todos os problemas individuais e tem de ter a capacidade de exigir e sindicar os resultados dos seus investimentos nos indivíduos, penalizando o parasitismo e a “miséria profissional”.
Quanto ao resto já tudo foi antes visto e dito.
A actuação e os discursos desastrosos das autoridades e da comunicação social obedecem sempre ao mesmo padrão idiota.

A foto apresentada é da Press Association e está disponível em UK riots in pictures.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Programa Comércio Seguro no México


Comerciantes, entidades estatais e municipais de Los Mochis, uma cidade da região costeira de Sinaloa, no México, puseram em marcha um programa denominado Comércio Seguro, pretendendo controlar a criminalidade que tem afectado a actividade comercial da cidade.
Trata-se de mais um exemplo de cooperação e parceria na prevenção do crime, utilizando um modelo há já alguns anos implementado em Portugal.

Leia a notícia completa no Linea Directa Portal: En Ahome ponen en marcha el comercio seguro 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Brasil: Menos dinheiro na caixa, menor risco de ficar sem ele!


A EPTV COM noticiou que o aumento de assaltos ao comércio de bairro em Ribeirão Preto fez com que os estabelecimentos tomassem medidas, deixando de receber o pagamento de contas da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
A CPFL, à semelhança de inúmeros serviços no Brasil e em Portugal, possui uma rede de estabelecimentos credenciados para receber o pagamento das suas contas.
Todavia, o uso pouco frequente de sistemas de pagamento sem recurso a dinheiro (como cartões) tem levado à acumulação de grandes somas de dinheiro – um atractivo para os criminosos.
O aumento dos assaltos a estabelecimentos credenciados pela CPFL tem levado alguns comerciantes a cancelar as suas ligações à empresa distribuidora de energia para garantirem maior segurança.

Veja a vídeo reportagem e leia a notícia em:

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Associação Empresarial do Concelho de Sintra e Polícia de Segurança Pública


A Associação Empresarial do Concelho de Sintra (AESintra) e a Polícia de Segurança Pública, organizaram uma sessão de esclarecimentos e debate, sobre segurança no comércio.De acordo com o comunicado da AESintra, a iniciativa constituiu uma oportunidade para os empresários e comerciantes colocarem todas as dúvidas sobre esta temática e saber quais as medidas que devem tomar para enfrentarem situações de insegurança.

O Presidente da AESintra, Manuel dos Santos do Cabo e o Comandante da PSP de Massamá, Carlos Lapinha, convidaram todos os empresários para esta acção de sensibilização sobre segurança no comércio que se realizou no dia 1 de Agosto, pelas 21H00, na Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial em Massamá.

O objectivo da sessão foi esclarecer os empresários sobre como actuar em caso de assaltos, cuidados de segurança a ter na gestão do seu negócio, como efectuar a articulação com as autoridades, entre outros.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Shrinkage: a Quebra Desconhecida


Um dos riscos da actividade comercial é identificado pelas «quebras» no inventário (stock), impedindo que os produtos transaccionáveis percorram o seu ciclo normal, sendo vendidos ao cliente e proporcionando um lucro ao vendedor.
A «quebra» é uma figura contabilística que identifica a diferença entre a facturação potencial de um determinado número de produtos em inventário e a facturação real.
As quebras podem ser conhecidas ou desconhecidas.
As quebras conhecidas são aquelas cujo motivo está identificado, podendo ocorrer, por exemplo, através da deterioração de produtos perecíveis ou da ultrapassagem dos respectivos prazos de validade que impedem a venda dos mesmos.
As quebras desconhecidas ou “Shrinkage” como também é frequente chamar-lhes, são todas as outras cuja origem não é clara, podendo ocorrer por via de:
Ø  Furto de bens ou dinheiro por parte de clientes;
Ø  Fraudes com cheques e cartões na aquisição de bens ou serviços;
Ø  Furto de bens ou dinheiro por parte de funcionários em qualquer parte do circuito de pós-produção (transporte, armazenagem ou loja);
Ø  Danos em bens destinados a venda;
Ø  Erros no fornecimento por parte dos fornecedores;
Ø  Erros gestionários (p.e. mau controlo de inventário, erros contabilísticos, etc).

Estas perdas não podem ser encaradas de forma displicente pelos comerciantes, especialmente aqueles que são independentes e gerem o seu próprio negócio sem estarem integrados em grandes redes de comércio de retalho.
Os resultados do estudo de 2010 do Barómetro Nacional da Quebra Desconhecida no Retalho (3ª edição) da Premivalor Consulting, indicam que “aproximadamente 67% das empresas inquiridas consideram que a rendibilidade das respectivas organizações é afectada pelo fenómeno da Quebra Desconhecida.”
O mesmo estudo apurou que entre as empresas inquiridas, o valor da quebra desconhecida na quebra total (a soma das perdas por quebra conhecida e por quebra desconhecida) durante 2009, foi de 58.73%, o que, sendo uma descida significativa, relativamente aos resultados de estudos anteriores, continua a representar um peso razoável nas perdas dos estabelecimentos que foram alvo desse inquérito.
Isto significa ainda que (e de acordo com o mesmo estudo) a quebra desconhecida em Portugal desceu de 1,16% (177 milhões de euros) para 1,03% do volume de vendas em 2009, representando 147 milhões de euros do valor da quebra total.
Dados recentes do Global Retail Theft Barometer (GRTB) indicam que na Europa ocidental os valores médios da quebra desconhecida caíram entre 1.40% e 1.27% entre 2000 e 2010. Estes resultados foram conseguidos através da melhoria dos processos de gestão que, por sua vez, garantiram a prevenção destas perdas.
O assunto da prevenção da quebra desconhecida é tão sério que retalhistas por todo o mundo cativam parte significativa dos seus ganhos para os investirem em segurança.
No Japão, por exemplo, sabe-se que o investimento nesta área é relativamente reduzido, mas proporcional ao baixo risco sentido nessa região do globo, representando um valor equivalente a 0.15% das vendas. No Reino Unido o investimento em 2009 foi de 0.29%, em França de 0.39% e nos Estados Unidos da América na ordem dos 0.46%.

Agora pensemos nisto:


Quer o Barómetro Nacional da Quebra Desconhecida no Retalho, quer o Global Retail Theft Barometer reflectem os problemas dos grandes retalhistas, aqueles que têm grande capacidade de investimento em segurança e que possuem ao seu alcance mecanismos mais eficientes de compensação.

E os outros?

O que vale para a prevenção da quebra desconhecida nas grandes empresas de retalho pode valer, com as devidas adaptações, para o pequeno comércio.

Os estudos existentes apontam a «boa gestão» como o aspecto essencial a considerar quando se pretende reduzir quebras e melhorar a segurança do comércio.

Não interessa adquirir todo o tipo de aparelhos, equipamentos e serviços de segurança que podem não estar adaptados às necessidades da sua actividade, sendo susceptíveis de a encarecer e ainda de afastar clientes.

As soluções de segurança, não obstante algumas regras gerais que temos abordado neste blogue, devem ser talhadas à medida das necessidades do seu destinatário.

Por isso, antes de se precipitar a comprar todo o tipo de alarmes, câmaras e serviços de vigilância, instrua-se um pouco mais, subscreva este blogue e não se prive de me enviar as suas questões.

Continuaremos este tema em breve.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Iniciativa da PSP de Aveiro sofre com falta de adesão dos comerciantes


No passado dia 7 de Julho de 2011, o Notícias de Aveiro noticiou que a PSP fez uma acção de sensibilização / formação sobre prevenção do crime em estabelecimentos comerciais, dirigida a gerentes, funcionários e vigilantes de centro comercial.
De acordo com a notícia, foram enviados 300 convites, tendo aparecido apenas dois comerciantes, entre cerca de uma dezena de participantes.
Por outro lado, foram relatadas à Polícia situações de crime que, de acordo com a mesma fonte, eram completamente desconhecidas das autoridades por nunca terem sido objecto de qualquer comunicação ou queixa.
Estes dois detalhes devem fazer-nos reflectir sobre a segurança que queremos. O envolvimento daqueles que são os alvos do crime é imprescindível para o controlo desse problema.
Sem informação e sem apoio da comunidade, a Polícia fica reduzida nas suas capacidades.
Comunicar com a Polícia e ter uma postura construtiva de maior participação, é um sinal de empenhamento que se reflectirá na segurança de todos.

Leia a notícia completa:

Polícia aconselhou gerentes, funcionários e vigilantes de centro comercial a tomarem várias medidas de reforço da segurança e como devem reagir em caso de furtos ou roubos.

O cinema do Fórum Aveiro assistiu histórias de um filme conhecido de muitos comerciantes: assaltos e furtos mais ou menos violentos.
A ocasião faz o ladrão”, lá diz o povo, e por isso, embora se garante que as ocorrências são em número reduzido naquele espaço, importa estar preparado para saber como reagir.
“Queremos prevenir, nenhuma loja está livre. Temos tido pequenos furtos, está a nível controlado, aliás bastante baixo”, referiu Maria João  Aguiar, directora do centro comercial em plena cidade.
“Não ter atitudes de heróis”, manter tanto quanto possível “calma” e conseguir “memorizar”  marcas que possam identificar os ladrões, foram alguns dos conselho úteis deixados a cerca de uma dezena de participantes, entre lojistas e vigilantes do Fórum Aveiro, pelo comandante da Esquadra de Aveiro, Luís Silva, no âmbito do programa "Comércio Seguro".
Além do furto do interior dos estabelecimentos, há também grande receio da passagem de notas falsas.
“A cidade é muito tranquila” comparativamente a outras. A criminalidade, na generalidade, é “residente, reincidente e está identificada”.
A detenção recente de cidadãos romenos, que embarcaram em roubos, gerando insegurança, acabou com uma dor de cabeça das autoridades.
Mas não se deve descuidar a segurança. “As pessoas devem estar melhor preparadas para saber como reagir, facilitar a comunicação com a polícia e dentro das próprias lojas”, recomendou o comissário da PSP, surpreendido por alguns dos casos relatados no encontro não terem dado origem a queixas.
Arménio Bajouca, da Associação Comercial de Aveiro, só lamentou a falta de receptividade do comércio local a esta iniciativa (dos 300 convites enviados só dois comerciantes apareceram), depois da boa experiência na Praça do Peixe, onde foi possível controlar a criminalidade.
Comerciantes e PSP vão continuar a colaborar, agora com a publicação de um manual de boas práticas para o sector da ourivesaria, estabelecimentos que são um dos alvos principais dos assaltantes.
A polícia foi ainda confrontada com a alegada falta de patrulhamento durante o período nocturno. Segundo o comissário, esta vertente, apesar da falta de meios, não está a ser descurada.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sobre a segurança

"A melhor força policial do mundo não pode tornar segura uma comunidade na qual as pessoas não possuam qualquer consideração pelas vidas e propriedade das outras (...), a melhor defesa contra o crime não é a frágil barreira proporcionada pela Polícia, mas uma comunidade de indivíduos que se respeitem mutuamente.”

Eggers, W. & O'Leary, J. – The Beat Generation: Community Policing at Its Best, «Policy Review» n. º 74, 1995

Tradução livre de LFG

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Situational Crime Prevention: A Prevenção Situacional

Ao contrário da maioria das teorias da criminologia, a Situational Crime Prevention ou Prevenção Situacional (Ronald V. Clarke) como é frequentemente utilizado nos discursos em português, não se preocupa com as origens e causas do crime ou do desvio.

Nesta teoria, assume-se que as pessoas, com determinada predisposição, colocadas em circunstâncias favoráveis, tendem a romper com a norma e a cometer delitos.

Assim, a Prevenção Situacional defende que o esforço preventivo deve estar concentrado na criação de condições que inibam a predisposição e eliminem as circunstâncias espaciais e materiais favoráveis ao delito.

Basicamente, pretende-se, numa perspectiva muito prática, que o criminoso sinta que não tem condições para cometer o crime ou que, se o cometer, existe uma forte probabilidade de ser detectado (a propósito deste ponto leia Routine Activity Theory).

A Prevenção Situacional parte da análise das circunstâncias particulares de um dado tipo de crime, para conceber estratégias de redução de riscos na potencial vítima e aumento de dificuldades e riscos no potencial criminoso.

A implementação dessas estratégias preventivas incide em alterações nas políticas de gestão, caracterizando-se por uma ostensividade muito baixa e tendo como objectivo, não a penalização dos delinquentes mas a eliminação das possibilidades de ocorrência do delito.

Assim, a Prevenção Situacional pode ser aplicada a variados contextos de risco criminal por qualquer tipo de indivíduo ou organização, pública ou privada, com ou sem responsabilidades formais na segurança própria ou de outrem, porque a sua preocupação não é a da justiça mas a da prevenção pura.

A análise e métodos da Prevenção Situacional podem e devem ser utilizados de forma autónoma por todos aqueles que têm responsabilidades e interessam especialmente a empresas, estabelecimentos comerciais, escolas, infantários e jardins-de-infância, hospitais, sistemas e redes de tráfego e de transportes, parques de estacionamento, bares e discotecas, etc.

Em resumo a Prevenção Situacional visa:
  • Reduzir as oportunidades dos criminosos cometerem crimes;
  • Abalar a confiança dos criminosos relativamente ao sucesso do crime, da fuga e da possibilidade de ser identificado;
  • Tornar os alvos dos criminosos mais inacessíveis, mais arriscados e menos compensadores.
A Prevenção Situacional é uma tarefa de todos, que pode resultar:
  • Na alteração a configuração, arquitectura, iluminação ou decoração de uma sala, um edifício ou de um arruamento para o tornar mais seguro,
  • Na utilização o bom senso como forma de impedir a acção criminosa,
  • No envolvimento de colegas e vizinhos na vigilância dos valores de uso comum,
  • No trabalho em rede, procurando parceiros interessantes,
  • No adequado apoio à Polícia e na solicitação de apoio à Polícia.
A Prevenção Situacional não é:
  • O uso de armas como forma de protecção,
  • A solução para todos os problemas de um negócio,
  • Mover o fenómeno criminal para outro lado ou outra vítima,
  • Um investimento necessariamente dispendioso.

Este assunto relaciona-se com:
Saiba mais sobre Prevenção Situacional lendo:

§  Situational Crime Prevention: Successful Case Studies, Clarke, R. (ed.) Harrow and Heston, Publishers, New York, 1997


Até breve!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Tiroteio no Colombo: vigilância e segurança privada

Na sequência do “Tiroteio no Colombo” ocorrido no passado dia 25 de Junho e noticiado pela LUSA e outros órgãos de comunicação social, o Diário de Notícias noticiou que a Associação Nacional de Vigilantes (ANV) reclamou mais poderes para os seguranças privados poderem intervir nestes casos, nomeadamente, a utilização das armas eléctricas, vulgarmente conhecidas por taser.
Como é habitual nestas circunstâncias, o enfoque da discussão está descentrado.
Sabe-se por experiência e reflexão científica que o aumento de meios coercivos para responder a ameaças tende a agravar o potencial da agressão.
Ou seja, armar os seguranças privados com essas ou outras armas, significará a breve trecho, um aumento da gravidade das agressões violentas a seguranças privados.
O objectivo deste blogue é incentivar a prevenção da criminalidade, especialmente aquela que atinge o comércio e dentro deste, especialmente o tradicional utilizando metodologias inteligentes e passivas, assentes em conhecimentos científicos e práticos da criminologia, aplicando a análise de risco e a alteração do meio e da conduta da potencial vítima.
A prevenção do crime faz-se, essencialmente, através da intervenção na cadeia de factos e acontecimentos que proporcionam e potenciam o delito.
Isso deve acontecer através da (1) imposição de condicionantes à motivação humana e (2) através da redução das oportunidades.
Neste prisma, não podemos deixar de criticar de forma útil e construtiva quaisquer posturas que pugnam por um aumento dos meios coercivos dos cidadãos (sejam ou não seguranças privados), como forma de prevenção do crime.
Apesar da popularidade do argumento, mais armas, simplesmente não resolvem o assunto!
O caminho é o inverso e sobre a missão da segurança privada, há que compreender o seguinte:
1.    A segurança privada é “subsidiária e complementar da actividade das forças e dos serviços de segurança pública do Estado” (artigo 1.º, n.º 2 do Decreto-lei n.º 35/2004, de 21 de Fevereiro) e apesar da sua importância, quer na protecção de pessoas e bens quer na prevenção e dissuasão da prática de actos ilícitos, ela continua a ser distinta da segurança pública porque tem um carácter exclusivo, ou seja, o seu objectivo é essencialmente a protecção de interesses privados em domínio privado.
2.    Contrariamente à segurança privada, as forças e serviços de segurança têm um carácter inclusivo, ou seja, servem todos e não apenas alguns.
3.    O interesse público da segurança privada, a que alude o actual quadro legislativo não pode ser dissociado da componente de exclusividade do seu serviço, bem como do carácter complementar e a subsidiário da actividade face às competências desempenhadas pelas forças e serviços de segurança.
4.    Esse “interesse público” existe de facto e tem diversas dimensões das quais destacamos algumas que julgamos mais importantes:
a.    A existência de segurança privada legal a operar regularmente em domínio privado, alivia a carga das forças e dos serviços de segurança, porque a sua existência em determinados espaços garante a vigilância e a prevenção de condutas lesivas e, se estiver bem organizada e percebendo bem o seu objectivo, proporciona a comunicação atempada e correcta dessas condutas às forças e serviços de segurança apenas quando as mesmas ocorrem e, assim, permite que as forças e serviços de segurança possam empenhar mais recursos, durante mais tempo, na vigilância dos espaços públicos;
b.    A existência de vigilantes bem identificados junto de uma determinada “clientela” deve invocar em primeiro lugar um auto-controlo de cada indivíduo pertencente ao grupo da “clientela” – os contratantes e os beneficiários colaterais do serviço de vigilância.
c.    Um dos aspectos importantes da prevenção criminal com recurso às teorias da prevenção situacional (Clarke) e do policiamento orientado (Goldstein) é a redução de factores de provocação da conduta lesiva / criminosa / indesejável. A postura amistosa e colaborante de um vigilante presente, firme e com soluções para oferecer é mais importante do que um guarda pronto a expulsar ou deter alguém com recurso à postura ameaçadora, ao músculo ou a qualquer tipo de arma.
d.    Na possibilidade ou eminência dessa necessidade, o segurança privado deve recorrer às forças de segurança.
5.    Assim, o segurança privado deve funcionar cada vez mais como um assistente e menos como um guarda se quiser obter bons resultados na prevenção de condutas indesejáveis – o seu papel não é repressivo e a sua postura não deve ser militarista. Na medida do possível e contrariamente ao que acontece em Portugal, a sua apresentação deve ser menos agressiva, não recorrer a uniformes de estilo militar e abandonar ideários militaristas, da força, da reposição da ordem e da repressão criminal – não é esse o seu papel!!!
6.    A segurança privada deve estar tão próxima quanto possível de uma participação da sociedade civil na segurança individual e colectiva.
A segurança privada é um recurso de segurança valioso porque introduz o factor humano da vigilância, personalizando-a e emprestando ao dispositivo ou sistema de segurança de um estabelecimento ou espaço privado, a capacidade de interacção com o cliente de forma não opressiva.
Na grande maioria das vezes, o papel do segurança privado no domínio privado é o de prestador de informações e de orientador do cliente. Esse papel é idêntico à maior parte da actividade policial em domínio público.
Actualmente, o regime jurídico da segurança privada prevê actores novos. O preâmbulo do Decreto-lei n.º 35/2004, de 21 de Fevereiro indica claramente que o director de segurança bem como os formadores de segurança privada vão dispor de formação específica especialmente dirigida à obtenção dos conhecimentos teóricos e práticos necessários para que o pessoal de vigilância desempenhe cabalmente as suas funções”.
Ora, seria desejável que essa formação assentasse primordialmente nos aspectos da verdadeira prevenção, focando especialmente a Teoria da Prevenção Situacional e as teorias de suporte como a Routine Activity Theory, a Criminologia Ambiental e a Teoria criminológica da Escolha Racional.
Voltaremos a este assunto. Até breve!

Leia ainda: Routine Activity Theory

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