Um dos riscos da actividade comercial é identificado pelas «quebras» no inventário (stock), impedindo que os produtos transaccionáveis percorram o seu ciclo normal, sendo vendidos ao cliente e proporcionando um lucro ao vendedor.
A «quebra» é uma figura contabilística que identifica a diferença entre a facturação potencial de um determinado número de produtos em inventário e a facturação real.
As quebras podem ser conhecidas ou desconhecidas.
As quebras conhecidas são aquelas cujo motivo está identificado, podendo ocorrer, por exemplo, através da deterioração de produtos perecíveis ou da ultrapassagem dos respectivos prazos de validade que impedem a venda dos mesmos.
As quebras desconhecidas ou “Shrinkage” como também é frequente chamar-lhes, são todas as outras cuja origem não é clara, podendo ocorrer por via de:
Ø Furto de bens ou dinheiro por parte de clientes;
Ø Fraudes com cheques e cartões na aquisição de bens ou serviços;
Ø Furto de bens ou dinheiro por parte de funcionários em qualquer parte do circuito de pós-produção (transporte, armazenagem ou loja);
Ø Danos em bens destinados a venda;
Ø Erros no fornecimento por parte dos fornecedores;
Ø Erros gestionários (p.e. mau controlo de inventário, erros contabilísticos, etc).
Estas perdas não podem ser encaradas de forma displicente pelos comerciantes, especialmente aqueles que são independentes e gerem o seu próprio negócio sem estarem integrados em grandes redes de comércio de retalho.
Os resultados do estudo de 2010 do Barómetro Nacional da Quebra Desconhecida no Retalho (3ª edição) da Premivalor Consulting, indicam que “aproximadamente 67% das empresas inquiridas consideram que a rendibilidade das respectivas organizações é afectada pelo fenómeno da Quebra Desconhecida.”
O mesmo estudo apurou que entre as empresas inquiridas, o valor da quebra desconhecida na quebra total (a soma das perdas por quebra conhecida e por quebra desconhecida) durante 2009, foi de 58.73%, o que, sendo uma descida significativa, relativamente aos resultados de estudos anteriores, continua a representar um peso razoável nas perdas dos estabelecimentos que foram alvo desse inquérito.
Isto significa ainda que (e de acordo com o mesmo estudo) a quebra desconhecida em Portugal desceu de 1,16% (177 milhões de euros) para 1,03% do volume de vendas em 2009, representando 147 milhões de euros do valor da quebra total.
Dados recentes do Global Retail Theft Barometer (GRTB) indicam que na Europa ocidental os valores médios da quebra desconhecida caíram entre 1.40% e 1.27% entre 2000 e 2010. Estes resultados foram conseguidos através da melhoria dos processos de gestão que, por sua vez, garantiram a prevenção destas perdas.
O assunto da prevenção da quebra desconhecida é tão sério que retalhistas por todo o mundo cativam parte significativa dos seus ganhos para os investirem em segurança.
No Japão, por exemplo, sabe-se que o investimento nesta área é relativamente reduzido, mas proporcional ao baixo risco sentido nessa região do globo, representando um valor equivalente a 0.15% das vendas. No Reino Unido o investimento em 2009 foi de 0.29%, em França de 0.39% e nos Estados Unidos da América na ordem dos 0.46%.
Agora pensemos nisto:
Quer o Barómetro Nacional da Quebra Desconhecida no Retalho, quer o Global Retail Theft Barometer reflectem os problemas dos grandes retalhistas, aqueles que têm grande capacidade de investimento em segurança e que possuem ao seu alcance mecanismos mais eficientes de compensação.
E os outros?
O que vale para a prevenção da quebra desconhecida nas grandes empresas de retalho pode valer, com as devidas adaptações, para o pequeno comércio.
Os estudos existentes apontam a «boa gestão» como o aspecto essencial a considerar quando se pretende reduzir quebras e melhorar a segurança do comércio.
Não interessa adquirir todo o tipo de aparelhos, equipamentos e serviços de segurança que podem não estar adaptados às necessidades da sua actividade, sendo susceptíveis de a encarecer e ainda de afastar clientes.
As soluções de segurança, não obstante algumas regras gerais que temos abordado neste blogue, devem ser talhadas à medida das necessidades do seu destinatário.
Por isso, antes de se precipitar a comprar todo o tipo de alarmes, câmaras e serviços de vigilância, instrua-se um pouco mais, subscreva este blogue e não se prive de me enviar as suas questões.
Continuaremos este tema em breve.
Boa tarde, gostaria de saber se é normal serem os empregados de uma empresa a suportar os custos da quebra desconhecida por, por exemplo, esta poder ser devida a erros de registo no acto da venda?
ResponderEliminarAgradeço a sua atenção
Obrigado pelo seu comentário e pela questão colocada.
EliminarNa verdade não parece ser possível, seja em que ordenamento for, imputar a responsabilidade de fatos a pessoas que em nada contribuiram para a sua concretização. Se está comprovado que as quebras são geradas no ato de venda e não nos procedimentos anteriores, parecer-me-ia por princípio lógico, que as pessoas responsabilizadas fossem as das vendas e não os da armazenagem ou reposição.
Em todo o caso, essa matéria em particular toca o foro do direito do trabalho, pelo que se recomenda uma consulta a um jurista dessa área.
Lamento a demora na resposta, mas efetivamente não tem havido muito tempo para dar a atenção devida ao blog.
Espero ter ajudado.